Finalizada a noite eleitoral europeia, dormido o sono de beleza e assentada parte da poeira , é tempo de análise dos respectivos resultados.
I - Análise fria:
A abstenção é o maior partido português.
O PSD venceu as eleições contra os prognósticos de quem é pago para adivinhar as tendências de votos (não somente empresas de sondagens, como também politólogos, opinion-makers e comentadores).
O PS teve menos votos que o mínimo exigível (quer em absoluto, quer quando comparado com o opositor por excelência – o PSD) e, por isso, perdeu as eleições, acabando com a aura de invencibilidade que detinha.
O BE teve um incremento extraordinário de votos, sendo quase certo que irá eleger 3 deputados num quadro de redução do total de deputados elegíveis.
A CDU perdeu (temporariamente?) o estatuto de terceira força política portuguesa, tendo sido forçada a fazer a primeira declaração da noite, congratulando-se por chegar aos dois dígitos e afastando o fantasma do Bloco (quem?).
O CDS-PP deixou o táxi e teve uma votação equivalente ao tempo de antena de que o cabeça de lista dispôs, remando contra todas as expectativas.
O MEP teve uma estreia fulgurante, condizente com a campanha que realizou. Um partido a seguir atentamente pela postura e rectidão com que entrou no jogo.
II – Análise subjectiva
Para além dos resultados, é importante vislumbrar tendências e agrupamento de opiniões face a um determinado momento temporal e às respectivas circunstâncias.
Num manifestação impulsiva e de júbilo inocente (ou será calculista?), o PSD não se limitou a reconhecer a sua reentrada no posto de maior partido da oposição, como a votação indicia – uma votação que é óptima em termos relativos – porque supera a do PS – e meramente regular em termos absolutos.
O PSD, quiçá inebriado pela improbabilidade da noite eleitoral, subiu para o palanque e ergueu uma falsa espada que entendia conferir-lhe o direito de governar, desde já, o país, forçando o governo a entrar imediatamente em gestão.
Primeiro erro estratégico do PSD: Ao invés de mobilizar e galvanizar os seus eleitores, proferiu, pela voz do seu cabeça de lista, declarações desgarradas que indiciaram e destilaram tudo o que, aparentemente e de acordo com PSD, os eleitores não suportam no governo: falta de humildade.
O PSD atribuiu-se a si próprio um estatuto que os Portugueses podem muito bem não ter querido conferir-lhe com esta eleição e isso pode ser perigoso e danoso para a gestão de imagem do partido que irá ser feita daqui em diante.
E com este proclamado estatuto pretende por o País em pause – estado favorito de muitos políticos.
Por outro lado, entendo que os resultados demonstram uma clara penalização ao governo – nalguns casos, motivada por deficiências de comunicação das razões que levam a tomar determinadas medidas; noutros casos, por motivos que escapam ao controlo do Governo mas que a população acaba por manifestar descontentamento relativamente a essas vicissitude e, bem assim, em alguns casos em que o Governo não tomou as melhores opções e foi sancionado por isso.
No entanto, existem algumas tendências interessantes nos resultados apurados, a saber:
O PSD obteve uma percentagem normal para o maior partido da oposição (quase 32%), i.e., não obteve uma percentagem que permita considerar que o eleitorado quis mostrar um sinal de viragem do PSD para o PS – veja-se que quando tal vento de mudança aconteceu nas últimas eleições, o PS teve cerca de 45% dos votos…
Podemos argumentar ao invés que o eleitorado quis sim uma viragem à esquerda e alocou cerca de 15% dos votos que poderiam caber ao PS no Bloco de Esquerda e na CDU (ambos os partidos atingiram votações que me parecem, e arrisco a dizer, irrepetíveis.
É igualmente muito interessante ver que no Distrito de Lisboa, o qual é por excelência o distrito mais activo politicamente, p. ex. por se encontrar mais perto dos centros de decisão, o PS superou o PSD, o que pode ser um bom indicador em caso de uma menor abstenção.
A ser válida esta leitura, vemos que o panorama para as legislativas não se encontra definido nos moldes em que muita da comunicação social gostaria – a festa do PSD só poderá ser celebrada em circunstâncias muito excepcionais: apagar o passado da Manuela Ferreira Leite, apagar o bom que o Governo de Sócrates realizou, reduzir as intervenções públicas da Manuela Ferreira Leite e limitar os debates com Sócrates.
Só assim poderia o PSD esconder o facto de que não se encontra preparado para ser uma oposição forte, hábil e eficaz ao Governo. É hoje patente que o PSD encontra-se fragmentado, dividido e omisso no que toca a um projecto para Portugal e, bem assim, patente que não tem os quadros necessários para constituir um Governo sólido para os tempos árduos que vivemos e outros que se avizinham…
Os próximos meses serão vitais e muito difíceis para os dois maiores partidos portugueses.
Se esta pode ser uma noite de engano e lirismo, desenganem-se ambos - e rapidamente - quando pensam já ter ganho a próxima guerra.
I - Análise fria:
A abstenção é o maior partido português.
O PSD venceu as eleições contra os prognósticos de quem é pago para adivinhar as tendências de votos (não somente empresas de sondagens, como também politólogos, opinion-makers e comentadores).
O PS teve menos votos que o mínimo exigível (quer em absoluto, quer quando comparado com o opositor por excelência – o PSD) e, por isso, perdeu as eleições, acabando com a aura de invencibilidade que detinha.
O BE teve um incremento extraordinário de votos, sendo quase certo que irá eleger 3 deputados num quadro de redução do total de deputados elegíveis.
A CDU perdeu (temporariamente?) o estatuto de terceira força política portuguesa, tendo sido forçada a fazer a primeira declaração da noite, congratulando-se por chegar aos dois dígitos e afastando o fantasma do Bloco (quem?).
O CDS-PP deixou o táxi e teve uma votação equivalente ao tempo de antena de que o cabeça de lista dispôs, remando contra todas as expectativas.
O MEP teve uma estreia fulgurante, condizente com a campanha que realizou. Um partido a seguir atentamente pela postura e rectidão com que entrou no jogo.
II – Análise subjectiva
Para além dos resultados, é importante vislumbrar tendências e agrupamento de opiniões face a um determinado momento temporal e às respectivas circunstâncias.
Num manifestação impulsiva e de júbilo inocente (ou será calculista?), o PSD não se limitou a reconhecer a sua reentrada no posto de maior partido da oposição, como a votação indicia – uma votação que é óptima em termos relativos – porque supera a do PS – e meramente regular em termos absolutos.
O PSD, quiçá inebriado pela improbabilidade da noite eleitoral, subiu para o palanque e ergueu uma falsa espada que entendia conferir-lhe o direito de governar, desde já, o país, forçando o governo a entrar imediatamente em gestão.
Primeiro erro estratégico do PSD: Ao invés de mobilizar e galvanizar os seus eleitores, proferiu, pela voz do seu cabeça de lista, declarações desgarradas que indiciaram e destilaram tudo o que, aparentemente e de acordo com PSD, os eleitores não suportam no governo: falta de humildade.
O PSD atribuiu-se a si próprio um estatuto que os Portugueses podem muito bem não ter querido conferir-lhe com esta eleição e isso pode ser perigoso e danoso para a gestão de imagem do partido que irá ser feita daqui em diante.
E com este proclamado estatuto pretende por o País em pause – estado favorito de muitos políticos.
Por outro lado, entendo que os resultados demonstram uma clara penalização ao governo – nalguns casos, motivada por deficiências de comunicação das razões que levam a tomar determinadas medidas; noutros casos, por motivos que escapam ao controlo do Governo mas que a população acaba por manifestar descontentamento relativamente a essas vicissitude e, bem assim, em alguns casos em que o Governo não tomou as melhores opções e foi sancionado por isso.
No entanto, existem algumas tendências interessantes nos resultados apurados, a saber:
O PSD obteve uma percentagem normal para o maior partido da oposição (quase 32%), i.e., não obteve uma percentagem que permita considerar que o eleitorado quis mostrar um sinal de viragem do PSD para o PS – veja-se que quando tal vento de mudança aconteceu nas últimas eleições, o PS teve cerca de 45% dos votos…
Podemos argumentar ao invés que o eleitorado quis sim uma viragem à esquerda e alocou cerca de 15% dos votos que poderiam caber ao PS no Bloco de Esquerda e na CDU (ambos os partidos atingiram votações que me parecem, e arrisco a dizer, irrepetíveis.
É igualmente muito interessante ver que no Distrito de Lisboa, o qual é por excelência o distrito mais activo politicamente, p. ex. por se encontrar mais perto dos centros de decisão, o PS superou o PSD, o que pode ser um bom indicador em caso de uma menor abstenção.
A ser válida esta leitura, vemos que o panorama para as legislativas não se encontra definido nos moldes em que muita da comunicação social gostaria – a festa do PSD só poderá ser celebrada em circunstâncias muito excepcionais: apagar o passado da Manuela Ferreira Leite, apagar o bom que o Governo de Sócrates realizou, reduzir as intervenções públicas da Manuela Ferreira Leite e limitar os debates com Sócrates.
Só assim poderia o PSD esconder o facto de que não se encontra preparado para ser uma oposição forte, hábil e eficaz ao Governo. É hoje patente que o PSD encontra-se fragmentado, dividido e omisso no que toca a um projecto para Portugal e, bem assim, patente que não tem os quadros necessários para constituir um Governo sólido para os tempos árduos que vivemos e outros que se avizinham…
Os próximos meses serão vitais e muito difíceis para os dois maiores partidos portugueses.
Se esta pode ser uma noite de engano e lirismo, desenganem-se ambos - e rapidamente - quando pensam já ter ganho a próxima guerra.
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