quinta-feira, junho 18, 2009

Afinal, o que é ser "alegrista"?

Tanto ouvi falar de "alegristas" e "alegrismo" que decidi fazer uma pesquisa aprofundada sobre esse fenómeno para tentar compreendê-lo. Por esse motivo, decidi visitar o website do Movimento de Intervenção e Cidadania (MIC), movimento cívico criado por Manuel Alegre após a derrota nas Presidenciais de 2006, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento da cidadania e da democracia.
Consultando o programa de actividades do MIC ao longo dos últimos três anos, podemos constatar que em 2006 realizou-se um debate com Manuel Alegre sob a temática "Água: Mercadoria ou Direito?" (Setembro). Em 2007 foi realizado um debate moderado por um membro do Conselho Geral do MIC com a presença de Helena Roseta subordinado ao tema "A Reforma do Estado Social e o Futuro da Democracia" (Janeiro); foi exibido o filme de Al Gore "Uma Verdade Inconveniente" seguido de discussão (Março); participaram no "desfile" do 25 de Abril; e organizaram um debate intitulado "Território: novos usos do solo", uma vez mais com Helena Roseta (Maio).
O MIC adormeceu durante 19 meses consecutivos e só voltou ao trabalho em Dezembro de 2008 para lançar o líder do movimento numa entrevista na SIC Notícias. De Janeiro de 2009 até ao presente momento, o programa de um movimento cívico como o MIC, criado para contribuir para o desenvolvimento da democracia, intriga-me dado que as actividades organizadas pelos seus dirigentes resumiram-se a jantares e algumas reuniões dos órgãos sociais, eventos de leitura de poesia por Manuel Alegre, lançamentos de livros e palestras do Clube de Pensadores, esse grupo elitista que contribui para tudo menos para a intervenção do cidadão comum.
Torna-se incompreensível toda a euforia em torno de Manuel Alegre e dá que pensar que um indivíduo com tamanho vazio de ideias tenha acolhido 20% dos votos nas eleições de 2006, a esmagadora maioria dos quais obtidos através do critério da "pena": os portugueses tendem a solidarizar-se com aqueles que acham que foram injustiçados ou perseguidos e não hesitam em dar-lhes protagonismo e poder mesmo que estes não apresentem uma solução que seja.
A situação torna-se mais gritante quando vemos que ao longo de três anos o MIC viveu à base de jantares, reuniões dos órgãos sociais e de uma Helena Roseta ávida de protagonismo e que marcava presença nos poucos eventos organizados com um mínimo de seriedade, ainda que sem grande interesse.
Não se consegue explicar como é que um movimento que, de acordo com dados oficiais, conta com 1102 membros e tenha tido despesas que totalizaram perto de 25.000 euros em três anos para fazerem... rigorosamente nada e quase 9.000 euros tenham sido gastos para criar um site minimalista e básico. É o líder deste movimento o homem que concentra atenções como ninguém e por quem os partidos tremem sempre que ele decide movimentar-se para a esquerda ou para a direita? Povo triste e vazio este.
Numa altura em que se encontra em fase de lançamento o movimento "Nova Esquerda", composto por "alegristas" descontentes com a permanência de Manuel Alegre no PS, questiono-me sobre o que é isso de ser "alegrista": será alguém que defende os mesmos ideais que o poeta-político (os quais se desconhecem) ou um mero clube de fãs de Alegre que se quer aproveitar politicamente da visibilidade que este tem?

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