O diário gratuito Destak, apresentou uma notícia cujo texto passo a transcrever: "Emigrante brasileira foi despedida do seu emprego nos CTT quando pediu à empresa de trabalho temporário que a contratou, a PH&B, para ter um contrato de trabalho. A brasileira pretendia deixar de trabalhar através de recibos verdes."
Permitam-me referir que a notícia começa com um erro: "emigrante" em vez de "imigrante", o que dá a ideia que a pessoa que escreveu o texto é brasileira e, sentindo-se ainda no seu país de origem, decidiu tentar incendiar a relação pouco amigável que já existe entre portugueses e estrangeiros de países em vias de desenvolvimento.
Posteriormente, é possível vermos que a notícia está integrada na secção "imigração" e não "sociedade", ou "emprego", o que contribui para uma ideia de querer fazer de uma notícia simples, uma luta entre povos e um tratamento diferenciado por parte dos portugueses, face aos estrangeiros que se encontram em território nacional. Ou seja, isto é um problema de imigração e não do foro laboral.
Quererem fazer de uma notícia cujo conteúdo deveria ser meramente laboral, uma notícia sobre xenofobia e racismo, é do mais baixo e vergonhoso que há. O racismo e a xenofobia começam na própria notícia, ao fazerem referência a "brasileira" e não "funcionária". Acredito que os CTT pretendiam contratar uma funcionária para os CTT, mas pelos vistos enganaram-se e contrataram uma brasileira, que pelos vistos não é tão funcionária como as portuguesas que trabalham na empresa. É essa a ideia com que fico depois de ler esta notícia.
Basicamente, a ideia que se quer passar é que só se recorreu ao despedimento da funcionária, pelo facto dela ser brasileira e porque nessa qualidade exigiu um contrato de trabalho. Esta curta notícia dá pano para mangas e, se investigarmos tudo o que realmente aconteceu, creio que será possível constatarmos que devem existir mais elementos na história que nos darão a possibilidade de sabermos o que realmente se passou, a saber:
1- se estaremos mesmo diante de um contrato de prestação de serviços, ou de um contrato de trabalho;
2- se a pessoa em causa não entrou pelo Gabinete dos Recursos Humanos dentro e deu um murro na mesa, exigindo que ou lhe davam um contrato de trabalho ou levava toda a gente a tribunal e, se falassem muito, ainda aparecia lá o Robertão artilhado de armas e de amigos "muito legais cara", dispostos a fazer a folha a toda a gente.
O conteúdo desta notícia é de lamentar, a forma como está redigida, também, e a intenção quer de quem a escreveu, quer de quem permitiu que ela fosse impressa assim, é bastante perceptível: passar a ideia de racismo e xenofobia, onde não a há. Certamente que a funcionária, apesar da sua nacionalidade brasileira, não é mais ou menos funcionária que qualquer portuguesa que trabalhe para a referida empresa. O racismo e a xenofobia, bem como outros problemas com a imigração, começa no próprio Destak. Cuidado com a difamação, pois estão a associar uma conduta xenófoba e racista a uma empresa de trabalho temporário
É esta a comunicação social que temos nos dias de hoje: em vez de instruírem e informarem, inflamam a opinião pública, criam vítimas e heróis onde não os há, e criam agentes de perigo para a sociedade, onde também não os há. Repito que tudo isto é de lamentar, sobretudo quando nessa mesma edição o jornal se vangloria do facto de ser o maior diário português com 188 mil exemplares e mais de 500 mil leitores. 188 mil exemplares que, diariamente, incendeiam a sociedade e contribuem para a opinião errada que as pessoas têm das situações (que neste caso são mais de 500 mil leitores e os outros que, reflexamente, têm acesso às opiniões que quem leu o jornal, lhes passa).
4 comentários:
No essencial, tens razão. É que a notícia está propositadamente feita para se atribuir um comportamento xenófobo aos CTT.
Os CTT são uma Empresa do Sector Empresarial do Estado e não uma Empresa de Trabalho Temporário. Portanto, a Destak não pretendeu com esta notícia atingir os CTT, quanto muito, pretendeu atingir a "empresa de trabalho temporário que a (à brasileira) contratou".
Ou seja, a Empresa PH&B a quem os CTT e outras empresas recorrem para recrutar trabalhadores.
Creio que os comentários da duca são para o Pedro Sá. Eu tive o cuidado de frisar que a contratante com o prestador de serviços é a PH&B. Ainda assim, não deixa de ter um bom nome a proteger.
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