Antes de mais, Nélson Évora encontra-se em Portugal desde os seis anos de idade, Francis Obikwelu desde os 16, e Pepe desde os 18.
A hipocrisia de que Scolari fala, não é dos portugueses, mas sim dele, ao tentar comparar Évora a Pepe. Desde logo, um veio para Portugal quando era muito novo e foi habituado à cultura, aos valores, e à sociedade portuguesa. Limitou-se praticamente a "nascer" na Costa do Marfim, e a viver em Portugal. Já o outro só veio para cá pela possibilidade de ganhar mais dinheiro do que ganhava no Brasil e o seu interesse sempre foi representar o Brasil, sendo prova disso mesmo ter jogado pelos sub-23 do Brasil, mesmo após já se encontrar em Portugal há três anos e mesmo sendo considerado na altura uma jovem promessa. Jogou pela Selecção Olímpica brasileira ao lado de nomes como Rochemback, Marcel ou Adriano (do Inter de Milão). Isto já revela a sua vontade em representar o seu país, mesmo sendo muito bem tratado e querido por todos cá em Portugal.
Estando no Porto, ao mais alto nível, nunca foi comentada a sua ida para a principal Selecção brasileira, facto que o motivou a abrir as portas à Selecção portuguesa. Um jogador que profissional, que jogue num clube grande, por mais troféus que conquiste, sabe que a sua carreira é incompleta se não contar com uma participação em competições a nível de selecções. Falta qualquer coisa. Por saber disso, e porque a imprensa começou a estender-lhe a passadeira, Pepe viu com bons olhos a ida à Selecção Portuguesa: uma selecção com presença em fases finais, que luta pelos principais lugares, cada vez mais em ascensão, além de lhe poder abrir outras portas a nível de clubes, podia dar-lhe a possibilidade de conquistar troféus e de ser participar em competições ao nível de selecções. E assim Pepe se começou a apegar à ideia da Selecção portuguesa, sobretudo depois de se descobrir que Gilberto Madaíl mexeu os seus cordelinhos junto do actual Governo socialista para que o processo de naturalização de Pepe fosse mais célere, com a justificação de ser do "interesse público nacional". Pepe ainda não sonhava com o Real Madrid, e ainda era um simples jogador do Porto, apesar de ser dos melhores elementos do plantel. Foi-lhe aberta uma porta e ele aproveitou. Caso contrário, não existe vontade nenhuma em representar Portugal, fruto de tudo o que aqui por mim foi exposto.
Se o caso de Nélson Évora parece claro e incomparável ao de Pepe, o de Francis Obikwelu pode deixar dúvidas. Mas eis a razão porque aceito Obikwelu a representar Portugal. Alguém me consegue dizer quantas referências teve Portugal nos 100 e nos 200 metros de atletismo, desde que participamos em competições internacionais? Exactamente. Zero. Ao contrário do futebol, onde temos vários atletas melhores que Pepe, e que dá para fazer duas ou três selecções, sem precisarmos dele, no atletismo temos Obikwelu e mais nenhum. E se repararem, desde a mediatização de Francis Obikwelu, temos por aí muitos jovens com vontade de ser "um Obikwelu". O luso-nigeriano tornou-se uma referência do atletismo nacional. Portugal que só era conhecido pelo atletismo de longo curso (maratona e 10 mil metros) de repente passa a ter fama nas variantes mais curtas. Obikwelu, sim, deve ser visto como "interesse público nacional", dada a forma como veio impulsionar a modalidade junto dos portugueses. Obikwelu não só abraça a nossa bandeira com alegria, como é o ícone da modalidade de 100m e 200m em Portugal, dando uma lufada de ar fresco à mesma e promovendo-a junto de mais jovens que antes de existir Obikwelu, nem sequer pensavam tornar-se atletas desta variante. A minha forma de ver Francis Obikwelu não se resume a um grande atleta, mas sim a um embaixador do atletismo de 100m e 200m, promovendo-o de tal forma que se hoje é o único na área, daqui a cinco ou dez anos terá descendentes na modalidade. As sementes que Obikwelu plantou hoje em e por Portugal, vão dar frutos a médio prazo. Mas se tivessemos várias referências na modalidade, olhava para Obikwelu quase da mesma forma como olho para Pepe. Porquê ter um, se temos tantos na modalidade?
Não bastando tudo o que já foi dito, Obikwelu poderia correr pela Nigéria, pela Polónia, pelo Iraque, ou pela Nova Zelândia, que o seu mediatismo seria o mesmo. Não precisa de representar Portugal para ganhar protagonismo. Precisa apenas das suas pernas. Os prémios que recebesse em competições seriam os mesmos com qualquer país que representasse, excluindo prémios federativos. Já Pepe, para dar nas vistas precisou de representar o Porto, e agora a Selecção Portuguesa. Um "internacional" por um país de topo tem sempre o seu contrato inflacionado, já para não falar na realização pessoal, não por representar Portugal, mas por participar num Mundial ou num Europeu.
Como podem ver, a diferença entre a dupla Obikwelu-Évora e Pepe, é abissal! A comparação feita por Scolari entre Évora e Pepe só faz sentido para um mentecapto como esse brasileiro que quer tornar a Selecção portuguesa um género de cabaret da coxa, uma selecção satélite do Brasil! E faz sentido para todos aqueles que não têm cabecinha, nem personalidade, e não conseguem pensar por si próprios, achando que o brasileiro Scolari ainda tem razão para dizer o que disse. Mas alguém tem "tomates" para dizer isto na cara desse senhor? Pelos vistos não!
Depois, acho graça ao facto de Scolari dizer coisas como "NÓS não FICÁMOS felizes com a vitória de Évora?". "Nós"? Mas desde quando ele é português? Chegou ao nosso país há escassos cinco anos, recebe o que recebe e só por isso fala como se fosse português? Só ficou cá mais alguns anos pelos motivos que todos sabemos e não foi o gosto por Portugal. Ganhar o Mundial'2002 com uma Selecção que se dava ao luxo de sentar Kaká no banco, só é missão impossível para Fernando Santos. Caso contrário, com Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Cafu, Gilberto, etc, bastava Scolari escolher o "onze" e eles jogavam sozinhos. Nem precisam de táctica. Se Scolari tem o protagonismo que tem hoje em dia, é graças ao que atingiu com a Selecção portuguesa. Uma selecção que não tinha melhor que um 3.º lugar num Mundial e duas idas às meias-finais de europeus. Mesmo assim conseguiu perder com a Grécia. Se Scolari se vergasse um pouco perante os factos e perante tudo o que Portugal já lhe ofereceu, e deixasse de ser ele hipócrita, só tinha a ganhar. Esta chamada do Pepe não se justifica em nada. Temos centrais suficientes para fazer duas selecções, e todos com qualidade acima da de Pepe. Já para não falar que o Pepe, por mais que se esforce, nunca conseguirá sequer "parecer" português, quanto mais falar à português.
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