"Pobres dos ricos" que são injustamente atacados pela população, defende Manuela Ferreira Leite. A líder do PSD é contra o ataque aos rendimentos dos ricos, defendendo que o que deve ser verdadeiramente atacado é a aquisição de bens de luxo, como os iates, que deverão ter uma carga fiscal mais pesada . Este raciocínio agrada-me por dois motivos:
1- Se o seguirmos à risca, então o IRS deve acabar, o que terá como consequência um agravamento do IVA como forma de compensar o "não ataque" aos rendimentos de ricos e pobres. Assim, é melhor termos o IVA e os IEC's com percentagens em torno, no mínimo, dos 50%. As vantagens são podermos começar a olhar para a folha de salários sem que existam diferenças entre os salários bruto e líquido e...
2- ... virarmo-nos para a aquisição de bens em mercado negro, desenvolvendo uma economia paralela às economias virtual e real até agora existentes, como forma de fugirmos às cargas fiscais elevadas que recaem sobre todo o tipo de produtos.
Assim, de acordo com a proposta de Manuela Ferreira Leite, começamos a ganhar mais dinheiro pelo trabalho que prestamos, embora queira acreditar que os aumentos dos salários vão ser praticamente nulos durante anos porque os empregadores, tal como os comerciantes relativamente à entrada em circulação do euro, vão querer aproveitar-se da mudança abrupta de salários para justificar o não aumento de salários. Os "ricos" vão beneficiar do mesmo regime e vão aproveitar esta medida para começarem a declarar os seus salários reais e teremos até o caso de estrangeiros que vão passar a "trabalhar em Portugal" para tirarem partido do mesmo benefício. Os iates, as aeronaves, e outros "luxos" vão passar a ser adquiridos, misteriosamente, apenas nas Ilhas Caimão, no Panamá e outros afins, mas vão poder circular em Portugal.
Ainda estou a pensar se será mesmo isto que pretendemos, sobretudo menos de 24 horas depois de saber que João Rendeiro, o coveiro do BPP, decidiu, por vontade própria, saldar uma dívida de três milhões de euros ao fisco, embora contrariado por entender que devia ser o banco a regularizar as dívidas dos rendimentos que o próprio auferia. Ora, estes três milhões de euros revelam que Rendeiro recebeu, no mínimo, seis pelas funções que exercia e que foi tributado com a mesma taxa que é tributado quem aufere 4.600 euros/mês, o que, já por si, é um salário demasiado elevado para a realidade nacional.
Se compararmos as taxas de IRS aplicáveis aos mais de seis milhões de Rendeiro (42% e 30,870%) e aquelas que são aplicáveis a quem aufere pouco mais que o salário mínimo (10,5%), vemos que os mais de três milhões que sobram para Rendeiro derreter como quiser, enquanto as vítimas do seu veneno definham para receber aquilo que com trabalho juntaram durante uma vida, é bastante superior aos pouco mais de 4.000 euros que quem aufere o salário mínimo, sendo escusado referir que este valor não só não dá para poupar como dá para adquirir muito pouco ou nada.
Posto isto, como é que Manuela Ferreira Leite se atreve a defender uma "política de defesa dos ricos", quando já sabemos que quem mais sofre com a sua pobreza é a maioria do povo cujo poder de compra está dependente dos créditos que lhes forem concedidos?
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