Ao longo dos últimos anos, os portugueses desenvolveram uma habilidade quase patológica de mentirem a si próprios. Nos dias que correm, onde quer que se vá, lá estará um português a atribuir responsabilidades a todos, e especialmente "ao sistema", menos a si próprio. É possível que tudo se trate de um mecanismo criado inconscientemente pela psique humana para conseguir lidar melhor com o fracasso e com a frustração em que algumas das escolhas pessoais resultaram. Não deixa, ainda assim, de ser menos aceitável e estranho por causa disso.
Estas são alguma das grandes mentiras que os portugueses contam a si próprios para melhor lidar com a situação no país:
1- O Governo tem que nos ajudar nos nossos problemas pessoais. Quantas não são as pessoas que regularmente não manifestam vontade de trabalhar, mas exigem ajudas do Governo? Quantas não são as pessoas que têm um ordenado baixo mas insistem em adquirir imóveis e carros de luxo, incomportáveis para o seu orçamento familiar e depois dizem que "o Estado devia intervir" ou "a culpa é do Governo que não aumenta os salários, nem faz nada para resolver esta situação"?
A verdade é: o Governo não é a Santa Casa da Misericórdia para ajudar financeiramente a população e mesmo que fosse não serviria para colmatar os erros bárbaros de gestão que são cometidos em vários lares portugueses. A função do Governo é criar políticas favoráveis ao país e gerir, o mais convenientemente possível e de acordo com as regras de bom senso, as receitas provenientes dos impostos.
2- A segunda grande mentira é que Portugal é um país rico, cuja riqueza está a ser saqueada pelo poder político. Lá porque temos os combustíveis mais caros da UE, pagamos dois impostos na aquisição de automóveis, pagamos um dos IVAs mais elevados da Europa, e temos bens altamente inflacionados até mesmo para mercados de países como França, EUA e Reino Unido, a verdade é que não temos um tostão furado e aos poucos vamos vendo o país a enforcar-se em dívidas. Levamos vida de ricos, mas não temos dinheiro para mandar cantar um cego.
3- A terceira mentira é que os portugueses são um povo de trabalho, decente e honesto, mas os líderes políticos são maus. Esta é das minhas preferidas. Para começar somos latinos, o que significa que somos manhosos, com tendência para a trapaça e pelo ainda juntamos um pouco da emotividade que nos caracteriza. Isso só por si faz-nos estar ali num limiar entre África, América Latina e a Europa. Por vezes tenho dúvidas se assim como a Madeira está mais para a Europa do que para África apenas porque alguém decidiu que a diferença entre Madeira e Cabo Verde estava na cor de pele dos seus nativos, se não estaremos mais próximos da Europa do que de África também pelo tom de pele.
Tirando isso, os portugueses têm os líderes que merecem, pois são o reflexo do país. Lembrem-se que eles não chegam ao poder sozinhos e alguns ainda conseguem repetir a proeza.
4- A quarta mentira é que personalidades estrangeiras ligadas à política, como Lula da Silva, José Eduardo dos Santos, José Luis Zapatero, entre outros, adoram Portugal e os portugueses. Vamos ser francos neste aspecto: estes indivíduos mantém relações próximas com Portugal para protegerem os seus interesses nacionais, daí nos chamarem "irmãos" ou "aliados". À primeira adversidade ou contratempo somos imediatamente vistos como "colonizadores" e "adversários" e imediatamente acusados de não querer contribuir para a estabilidade internacional.
Espanha, Brasil, Angola, EUA, e até mesmo os EM da UE, nenhum destes gosta tanto de Portugal como nós ao ponto de nos querer beneficiar. Se queremos que o nosso país avance sem depender dos caprichos de terceiros temos que ser nós a fazê-lo! Eles não gostam de nós pelo nosso belo sol e pela nossa simpatia, mas sim pelo que lhes podemos dar. Contrariá-los é como sentenciar as relações bilaterais existentes, ou porque é que acham que o Irão e o Zimbabué são vistos com desconfiança?
5- A quinta mentira diz respeito à crença popular que diz que devemos ter educação gratuita e serviço de saúde gratuito para garantir a sustentabilidade do país. Vamos ser honestos: não há almoços grátis e o dinheiro não cai do céu! Quando um país pobre quer dar uma de rico, qual adolescente que vê os outros meninos da escola usarem roupas de marca e ele decide acompanhá-los, é impossível garantir serviços públicos básicos gratuitos. Enquanto continuarmos com projectos mirabolantes e com o despesismo público a um ritmo elevado, bem podem sonhar com saúde e ensino gratuitos! E enquanto não mudarmos de rumo o melhor que podemos garantir, para ser benevolente, será a tendencial gratuitidade aos mais desfavorecidos.
6- Outra grande mentira é aquela que muitos portugueses contam a si e aos outros ao dizerem que é a pobreza que leva ao crime e à realização de actos impulsivos. Querem mesmo acreditar que é a pobreza e a miséria que está por trás dos assaltos às gasolineiras, às caixas multibanco, ourivesarias e outros estabelecimentos? Pobre não rouba por ganância, rouba algo que lhe garanta a sua subsistência.
Se a pobreza fosse a origem de todos os males, como é que se explica que, por exemplo, Cristiano Ronaldo seja uma pessoa boa que dá tudo aos que lhe são próximos e tenha passado 12 anos da sua vida a viver no meio da miséria?
7- Mentira número sete: Barack Obama vai tirar-nos da crise e vai salvar o mundo. Portugueses, ponham os olhos em países como a China e constatem que o que fez com que este país passasse de terra dependente do investimento externo para superpotência foi o sacrifício de toda uma geração trabalhadora e empreendedora que fez da China aquilo que é hoje. Se os portugueses deixarem de ser individualistas e começarem a pensar em dar o seu melhor para construir um país melhor então podemos sair da crise. Sem trabalho e unidade nacional bem podem ter fé em Barack Obama, José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. A situação vai continuar igual e os culpados são sempre os suspeitos do costume.