domingo, dezembro 02, 2007

Não é este o caminho a seguir

A educação no nosso país padece cada vez mais de vários males e vícios. A nossa educação é deficiente. O nível cultural e académico dos portugueses é cada vez mais baixo e mais falso. Como é possível que gente com habilitações equivalentes à licenciatura não saibam escrever português? Como é possível que coisas simples que se aprendem (ou aprendiam) na 2.ª classe sejam tão difíceis para alguém com o 9.º, com o 12.º ou com a licenciatura? Proponho a criação de um novo concurso na televisão portuguesa: "Você sabe escrever como um miúdo de 8 anos?". Aqui é que eu gostava de ver os licenciados, mestrados, secundários, etc. Agora, aquele concurso em que se tenta provar que se sabe mais que um miúdo de 10 anos, é triste e ridículo. Sinceramente, quero lá eu saber da existência de uma roda dos alimentos. Isso não me acrescenta rigorosamente nada. Não é por existir a dita que vou passar a comer mais de uma coisa e menos de outra. Também não quero saber da existência de palavras esdrúxulas, ou do significado de cáfila. Muito menos saber o que são palavras homófonas e homógrafas. Estes preciosismos nos dias de hoje não acrescentam nada à nossa vida prática e comum. Qual é o adulto que hoje se gaba diante dos amigos por saber qualquer uma destas coisas que acabei de dizer? Quem é que recorre a este tipo de conhecimentos, sem ser pessoas com profissões relacionadas com os mesmos?
Esta é a era da desinformação e da deseducação. As pessoas têm conhecimento de coisas inúteis e ensinam-se às mesmas coisas absolutamente sem nexo e sem valor algum. As escolas que o digam. Depois de tirarem "Os Maias" do programa oficial de português, e de há alguns anos atrás terem incluído Mia Couto no programa de português, agora segue-se a tendência de ser o ensino a ter que se adaptar às deficiências dos jovens. Em vez de se criarem meios para atrair os jovens para o ensino, criam-se meios para ser o ensino a chegar aos jovens, ainda que por vias completamente erradas e censuráveis. Hoje em dia já não se usa calculadora numa escola primária. Peritos já se pronunciaram que se trata de um erro grave, que vai contribuir para que os alunos usem cada vez menos as suas faculdades mentais em matéria de raciocínio e cálculo rápidos. O cérebro desenvolve-se cada vez menos graças a este tipo de medidas. Ora, se já no nosso tempo se dizia que o ser humano utilizava apenas 10% do seu cérebro, com este tipo de "ajudas" qual será a percentagem que as gerações presentes e futuras usarão?
Assistimos ainda a uma adaptação do vocabulário às lacunas e deficiências dos alunos. Agora com o acordo ortográfico as pessoas deixarão de pensar para saber como se escreve. Será praticamente imediato: conforme se pensa, escreve-se porque a palavra estará quase sempre bem escrita. Até há uns tempos, escrever era um desafio. Saber como se escreve tal palavra, pensar na lógica que se aprendeu quando se era mais novo, tentar dar sentido a uma frase. Enfim, tudo isto começa a perder a validade e o sentido. Aqui está outro exemplo de uma medida que contribuirá para que se desenvolva menos ainda o raciocínio mental. Passa a ser tudo impulsivo, tudo prático, tudo directo. Passaremos a comportar-nos por instinto. Seremos animais cada vez menos racionais. A diferença entre nós e os "outros" é cada vez mais ténue.
Para ajudar à festa, o Governo legitima e oficializa este tipo de medidas, mesmo sabendo que lesa gravemente o desenvolvimento das gerações mais novas e das futuras. O Governo que devia ser o primeiro a combater este tipo de "preguicite" e facilitismo é o primeiro a dar o passo em frente. Importante é os números, as percentagens, as sondagens e os rankings. Dar-se um diploma do 9.º ano a alguém que nem tem condições para frequentar uma 3.ª classe, permitir-se que os alunos não possam reprovar por faltas ainda que faltem um ano inteiro à escola, permitir que um tipo com o 9.º ano tenha acesso directo à Faculdade, permitir que se ensine com Playstations, Nintendos, entre tantas outras coisas, é um autêntico atentado à nossa formação e desenvolvimento!
Como se não bastasse, ainda nos deparamos com campanhas publicitárias apoiadas pelo Governo que contribuem para que haja uma tendência cada vez maior dos jovens para escreverem mal e terem mais prazer em se expressar em línguas estrangeiras do que na nossa. Campanhas como "skoool.pt", "Knojo", "Kita o teu telemóvel", entre outras que se vêem espalhadas por todo o lado, só contribuem para uma estupidificação de todos nós, sendo a formação (ou falta dela) a ir ter com o indivíduo, em vez de se criarem condições para se atrair o indivíduo até à correcta formação.
Mais uma vez, o Governo compactua com estas coisas, permitindo-as, mesmo sabendo que não é este o caminho a seguir. Dizem que é a globalização, a mudança, a criatividade e o desenvolvimento. Eu prefiro chamar-lhe facilitismo, retrocesso, limitação e estupidificação.

2 comentários:

Pinokio disse...

"Qual é o adulto que hoje se gaba diante dos amigos por saber qualquer uma destas coisas que acabei de dizer?"

Porque o facto de ter conhecimento sem ser para se gabar diante dos amigos é inútil não é?

Quanto aos facilitismos que ocorrem... nem merecem comentários.Uma coisa é certa o meu 12º ano começa a valer cada x mais comparado com o 12º ano de hoje em dia. E também sou contra entrarem para as universidades sem 12º completo, mas as pessoas sabem que depois será mais dificil para elas. Em todo o caso tem aspectos positivos.
Vou continuar a escrever português como sempre escrevi e tenho de dizer, apesar de ter tirado um 15 no exame nacional de Português A à pala dos Maias, ainda bem que saiu, porque era uma porcaria de livro. Já a entrada do Saramago nos programas acho uma estupidez, pois ele nem sequer escreve segundo as regras de pontuação. Mas também não sou de defender os livros de autores portugueses para serem dados. Por mim deviam ser usados livros interessantes para os estudantes e não muita da porcaria que nos obrigam a ler a contragosto no secundário.

Filipe de Arede Nunes disse...

Os Maias uma porcaria de livro?
Ok. Que dizer a isto? Gostos são gostos, mas para mim é a maior obra da narrativa portuguesa - daquilo que li, naturalmente.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes