segunda-feira, janeiro 29, 2007

O Não da Matilde

Matilde Sousa Franco é uma mulher que admiro. Naturalmente só lhe foi dada alguma visibilidade, após o falecimento do grande Prof. Sousa Franco (que tive a honra de ter como Professor, no seu último ano de vida). Tive ainda oportunidade de conhecer e contactar com esta senhora, que mete inveja a qualquer mulher de 20, 30, 40 anos, tal é a classe que tem, a educação, a amabilidade, humildade e discrição. Conversar com ela é uma honra, um luxo! Independentemente das escolhas partidárias de uns e de outros, o que devemos realçar nas relações com os outros, é a forma de comunicar e de estar. E foi graças a estes dois factores que passei a admirar a Prof.ª Matilde Sousa Franco. Escolhas políticas, religiosas, clubísticas, e outras que tais, devem ficar para último plano. Não sei quanto aos outros, mas eu não coloco estes factores como prioritários quando quero seleccionar as minhas amizades.
Não foi isto que me levou a escrever este post, mas tinha que fazer uma homenagem digna de uma grande senhora como é a Professora. Fiquei mais satisfeito ainda quando soube que Matilde Sousa Franco é apoiante do NÃO. Já sabia disso quando após Sócrates vencer as eleições se começou a falar no aborto e começaram a questionar os deputados sobre o seu sentido de voto e a sua opinião sobre a matéria. Matilde Sousa Franco respondeu com um discreto NÃO, à pergunta que lhe fora colocada sobre se era a favor ou não.
Mas agora deixou a discrição, para assumir a sua opinião e o seu sentido de voto. E, neste sentido, iniciou a sua campanha enquanto apoiante do NÃO, para choque de alguns socialistas que esperavam contar com o apoio da bancada àquilo que o partido quer. No entanto, tal como a Igreja não deve influenciar a opinião dos eleitores, os partidos não o devem fazer também, e nem sequer devem chegar a um consenso sobre qual será a opinião a defender pelo partido x ou y, porque acho que estas opiniões são "pessoais e intransmissíveis". Cada um deve votar conforme quer e pensa, e não conforme o Partido ou a Instituição X lhe diz. Neste sentido, MSF ganhou mais uns pontos na elevada consideração que tenho por ela, não se vendendo à máquina carneirista que é o PS, e manifestando a SUA opinião, ainda que correndo o risco de ser encostada pelo partido nas próximas eleições. Tal, também não era de admirar. Toda a gente sabe que Matilde Sousa Franco só foi cabeça de Lista por Coimbra, porque o PS viu no falecimento de Sousa Franco uma oportunidade de ouro para ganhar mais uns deputados para a Assembleia da República.
Sobre o aborto, e para todos aqueles que falam de Direitos Humanos que são violados um pouco por todo o mundo, deixo-vos esta frase de Matilde Sousa Franco sobre o aborto:

"Votar NÃO, coloca Portugal pioneiro do humanismo"

2 comentários:

Unknown disse...

Ou não... pode ser que até o considerem atrasado,...hipócrita,...

Sofia Paixão disse...

Votar Não tem como consequência manter a situação em que vivemos. Há aborto, como sempre houve e como sempre haverá. Essas outras alternativas milagrosas que o Não refere tão convictamente não se invalidam com a despenalização do aborto. Ajudar as mulheres até ao fim, oferecer-lhes alternativas fiáveis que as demovam da eventual interrupção da gravidez, não são alternativas. São DEVERES civicos e humanos. O voto Não faz é com que as mulheres que não quiserem ser demovidas, porque, vá, vamos lá arranjar uma justificação, não é preciso ser muito boa, basta assim assim, NÂO QUEREM simplesmente SER MÃES aqui e AGORA, pelas mais variadas razões (k parvas que elas são, ser mãe é uma coisa tão facil e ainda têm a oportunidade de ir comprar roupinhas giras e pequeninas para os rebentos), sejam condenadas, sejam julgadas e sejam presas. Que mundo maravilhoso este em que vivemos, em que se enchem as prisões de mulheres que fizeram escolhas erradas. Quiseram escolher, responsabilizar-se pelas suas opções, mas como seguiram o caminho que nós, terceiros que não temos nada a ver com isso, não gostamos, pumba! Prisão com elas, sim senhor. Há que ter respeitinho. E não me venham dizer que a lei serve para proteger a mulher de pressões exteriores, e não me atirem à cara que não existem mulheres presas por aborto. Se as leis existem cumpram-nas. Caso contrário apagem-nas. Axo muita piada, os defendores do Não dizerem que não concordam com a penalização das mulheres, mas que a alternativa apresentada é um aborto livre. Eu sou livre de comprar um livro, também seria livre de abortar. Até é a mesma coisa e tudo! Ponderar o novo do Saramago ou Agustina Bessa Luis exige tanta concentração como abortar ou não abortar. Uma lei que despenalize o aborto até às 10 semanas, levará muito mais mulheres a recorrer a essa pártica, ora pois claro. Então se se pode porque é que não se vai aproveitar? Até há a vantagem de não se morrer durante o processo porque há lá medicos e tudo que percebem daquilo. Será "the new place to go". A Baixa que se cuide. A quem achar que estou a ser fria e inconveniente, asseguro que já ouvi pior a Assistentes da nossa casa quando convidados a intervir sobre o tema, a figuras públicas na televisão, enfim uma autêntica festa. Se não os podes combater junta-te a eles. Se a estupidez é argumento no discurso, aqui está a minha, nua e crua. Sejamos todos honestos. O Não além de se afirmar "orgulhosamente só" na luta a favor da protecção das crianças (que giro, sempre pensei que tal ideia fizesse parte do pensamento comum, são mesmo originais estes gajos) o que quer verdadeiramente é ver as mulheres na prisão a pagar pelos erros que na cabeça deles são muito graves. Meus amigos, quem não quer, não aborta. Não há verdade mais simples que esta. Devemos fazer tudo o que pudemos para ajudar as mulheres que em dificuldades se viram para a opção mais dificil, ao contrário do que o Não quer fazer parecer. UM aborto não é ir ao cabeleireiro. Um aborto é uma decisão para a vida. Como já ouvi alguém dizer, a mulher está disposta a morrer por isso. É o SEU filho que está em causa. Não há ânimos leves aqui, não há leviandade. Há desespero, ponderação, responsabilidade e aceitação das marcas que tal acto vai deixar. Querem ajudar as mulheres? Poupem-nas do acréscimo de sofrimento que é sentarem-se no banco dos réus, com a sua intimidade a praça pública, com o seu juizo questionado, com a sua liberdade cortada. Eu voto SIM, sou contra o aborto, mas sou apologista da LIBERDADE. A Mulher DEVE poder escolher e nós temos o DEVER de aceitar.