sábado, maio 03, 2008

"e-Menu": desenvolvimento tecnológico ou aumento do desemprego?

Pude ler com atenção a última edição da revista do jornal Público ao domingo, a Pública, que trazia uma reportagem sobre o novo conceito tecnológico chamado "e-Menu", o qual consiste num conjunto de terminais com ecrãs tácteis, onde o cliente pode fazer de tudo um pouco: de pedidos de informações a pagamentos de contas, é possível fazer um pouco de tudo sem que ocorra qualquer tipo de contacto com outro ser humano. Hoje é possível encontrar esta tecnologia nas gasolineiras, nas livrarias, nos hipermercados, etc. Está por todo o lado.
Fiquei sobremaneira espantado porque a reportagem ignorou dois dos principais malefícios desta tecnologia: o contacto humano e o desemprego que cria. Do ponto de vista da empresa, ter menos empregados, é sinónimo de menos despesa. Mas e do ponto de vista social e humano? Quantos menos empregados e mais tecnologia, menos postos de trabalho existirão e maior o desemprego. A questão torna contornos mais graves se tivermos em conta que a maior parte dos funcionários das lojas abrangidas por este conceito "e-Menu" são pessoas normalmente com médias ou médias/baixas qualificações, o que dificulta ainda mais a sua tarefa na obtenção de um posto de trabalho no futuro.
Outra questão é a do contacto humano. É certo que hoje em dia é um risco sermos atendidos por um/a funcionário/a de qualquer um destes estabelecimentos: a regra começa a passar por sermos mal atendidos e enfrentar pessoas que estão com uma cara como quem diz "porque é que eu estou aqui sentada a aturar este gajo que veio fazer compras?". . No entanto, há sempre excepções e nada como o contacto humano, por mínimo que seja, numa época em que caminhamos cada vez mais para o isolamento e para o autismo. O convívio e a socialização são de salutar e quanto mais variações conhecerem, melhor. Onde está a velha tradição onde o contacto entre cliente e funcionário são privilegiados e onde o shit chat é a palavra de ordem?
O chamado desenvolvimento tecnológico acaba por acentuar o gap já existente entre as pessoas dos vários estratos sociais, privando-as do contacto entre si. Acaba por trazer também graves problemas de empregabilidade, ao fazer com que os clientes optem pelo contacto com a máquina como forma de simplificar as suas compras. É o cliente quem pede, quem vai buscar, quem paga, quem embala, enfim, é o cliente que faz tudo na loja. Os empregados são dispensáveis e a curto/médio prazo dispensados. Chamem-me radical, mas evitarei esta tecnologia na medida do possível. Não, não sou antiquado ou inadaptável ao avanço tecnológico. Mas, enquanto estiver na minha esfera a possibilidade de tomar uma decisão, optarei sempre por lojas que privilegiem o contacto com o funcionário ou então, em lojas que tenham a máquina e o funcionário, optarei sempre pelo segundo. Os motivos são simples: colaborar para que outros mantenham o emprego que têm, e privilegiar o contacto humano. Por pior que seja a pessoa que está do outro lado, continua a ser bem melhor do que o isolamento ou do que sentirmos que a única possibilidade de contacto que temos num determinado local seja com uma máquina.

5 comentários:

Mónica disse...

Concordo plenamente.
Não há nada como o atendimento personalizado, aliás que está em vias de extinção como disse....
Cómica a expressão que utilizou para se referir ao frete que certos trabalhadores têm, no que diz respeito ao atendimento ao público....parece que nos estão a fazer um favor...é surreal...lol...e com tantas pessoas no desemprego.....

Cumprimentos,

Mónica

Poemas de amor e dor disse...

Este impacto na vida da humanidade irá ser terrível, como, aliás, refere. Se não tivermos cuidado as máquinas tomarão conta de nós, como previsto. O pior é que com esta evolução só haverá lugar para o homem se a sociedade mudar por completo. Somos todos iguais mas diferentes, contudo, sem amor e desumanizando a humanidade não iremos a lado nenhum.
Saudades
Rogério Martins Simões

Poemas de amor e dor disse...

Quem leu os livros de ficção científica rapidamente conclui que tudo isto será inevitável. Vou mais longe: no dia em que acontecer uma catástrofe a nível global, os poucos humanos que sobrem nem saberão plantar e ou produzir. Voltarão às cavernas e desenharão com os materiais disponíveis as memórias enquanto lutarão para sobreviver.

Pinokio disse...

Concordo plenamente. Felizmente existe um livro de reclamações para se preencher sempre que o funcionário está com cara de enterro. Na função pública então é uma maravilha faze-lo, desde que o Governo decidiu arranjar maneira de os despedir. Pelo menos é ve-los com uma cara bem mais alegre e melhor atendimento. Pelo menos para comigo...

Pedro Sá disse...

Discordo totalmente do conteúdo do post. Optando pelas máquinas, não só tudo é mais fácil e prático, como também estamos a dar o nosso contributo para que haja mais emprego qualificado e menos emprego não qualificado.