domingo, outubro 21, 2007

Para quê um curso superior quando se tem um amigo?

Recebi um e-mail que dava conta de um anúncio de emprego para a função pública. Fiquei estupefacto com o conteúdo e decidi investigar o seu conteúdo. Pasmem-se com este verdadeiro hino ao "tacho" na Câmara Municipal de Ponta do Sol (Madeira):
- Cargo: Chefe de Divisão.
- Funções: Coordenar e dirigir técnicamente os serviços da Divisão Administrativa, Financeira e Recursos Humanos; Manter o Presidente da Cãmara informado da actividade desenvolvida pelos sectores que dirige, bem como das anomalias, carencias ou deficiências dos serviços técnicos; Executar tudo o mais que lhe for cometido expressamente por leis, regulamentos, deliberações do executivo e despachos do seu Presidente.
(Até aqui, tudo bem)
- Remuneração: 2487,93 euros (um pouco elevado, não?).
- Suplementos: 185,42 euros (o coitado que vai ter as funções na CM de Ponta do Sol, esse grande e complexo Município português, merece um suplemento acrescido ao seu já baixo salário).
(Agora sim, começa o espectáculo)
- Habilitações literárias exigidas: 9.º ano!!!!!
(não estão chocados ainda? Então leiam o resto)
- Perfil: Para os licenciados licenciatura adequada; Experiência e conhecimento do desempenho da actividade autárquica, para o serviço de apoio instrumental, pelo período mínimo de 4 anos; Experiência em gestão, coordenação e controlo de meios técnicos e humanos, pelo período mínimo de 4 anos; Experiência na Gestão Financeira e controlo orçamental, pelo período mínimo de 4 anos.

Duas simples perguntas, que por acaso são as mesmas que vieram no e-mail, mas que qualquer um acaba por colocar:
- habilitações mínimas é o 9.º ano, mas depois exigem aos licenciados a licenciatura adequada?! Juro que estou curioso por ver a licenciatura adequada dos que têm o 9.º ano.
- em Ponta do Sol, ou na Madeira em geral, quantos serão os que têm experiência e conhecimento do desempenho da actividade autárquica, para o serviço de apoio instrumental, pelo período mínimo de 4 anos? Quantos terão experiência em gestão, coordenação e controlo de meios técnicos e humanos, pelo mesmo período? E quantos terão experiência na gestão financeira e controlo orçamental, pelos tais 4 anos? Presumo que muitos... ou não (mais uma vez)!

Por fim, temos mais uma pérola:
- Método de selecção a utilizar: entrevista pública.

Ou seja, um cargo de tamanha complexidade, nem sequer tem um exame escrito para avaliar os conhecimentos? Basta uma entrevista pública? Ou o júri vai fazer uma verdadeira prova oral e vamos todos acreditar que o seleccionado não vai trocar uma palavra que seja, durante a entrevista pública, sobre os seus familiares e amigos que o júri, coincidentemente, também conhece, ou então já todos sabemos o que se passa aqui!

Prometo acompanhar esta oferta de emprego, e coloco desde já o nome dos elementos do júri para "memória futura": António de Sousa Ramos, Vereador da Câmara Municipal; Drª. Lucilina Vitória Spínola Sousa, Chefe de Divisão de Controlo Orçamental da DROC; Drª. Maria Isabel Oliveira Pereira Ramos Duarte, Advogada. Destes 3, o vereador não tem o título "Dr." antes do seu nome, o que me leva a crer que não tem curso superior e não tem bases suficientes para avaliar os conhecimentos de alguém que concorre a funções tão complexas como as que aqui estão em causa; a 2.ª já tem o "Dr." e podemos entender, pelo seu cargo, que sabe do que se fala nas funções exigidas; a 3.ª é advogada e, que eu saiba, nas Faculdades de Direito não se ensina o que quer que seja sobre gestão financeira, controlo orçamental, e gestão, coordenação e controlo de meios humanos. Além do mais, se se souber que além de advogada exerce funções na Câmara de Ponta do Sol, viola os deveres deontológicos do Estatuto da Ordem dos Advogados, por existir incompatibilidade de funções.
Basicamente, a entrevista ficará resumida à 2.ª pessoa que compõe este júri. Brevemente trarei novidades sobre este caso.

(ao clicarem no link do 1.º parágrafo vão entrar na parte de pesquisa da Bolsa de Emprego Público. Coloquem como requisitos da pesquisa "2000 euros" na remuneração, e escolham "Madeira")

3 comentários:

Pedro Sá disse...

O post é péssimo, não exactamente pelos vários disparates que aí dizes (e que já vou passar a enumerar), mas por passares ao lado daquilo que é verdadeiramente essencial: é que isto é claramente um anúncio feito à medida de alguém. Aliás, não é por acaso que há muitos anos que defendo que se acabem com estas hipocrisias e se passe à nomeação directa.

Agora os disparates:

1. A remuneração não é elevada para as funções. Aliás, isso líquido não vai para muito mais que € 1750.

2. Não vejo razão nenhuma para que para um cargo destes se fosse fazer algum exame. Agora o que de facto é absurdo é a inexistência de avaliação curricular.

3. Até me parece bastante transparente o facto de o Vereador estar no júri. E, aliás, considerando as funções em causa, faz todo o sentido que um dos membros do Executivo faça parte do júri, em rigor até deveria ser o próprio Presidente da Câmara.

4. Perfeitamente ridícula a inclusão da Chefe de Divisão de Controlo Orçamental, porque está a escolher alguém que até vai coordenar as suas chefias...

5. Tu falas claramente como se os juristas de mais nada soubessem senão de Direito, médicos de Medicina, etc, etc......E para além disso o lugar em causa digamos que é o de um filtro entre as partes administrativa, financeira e de recursos humanos e o Presidente da Câmara...

6. O lugar está claramente destinado a uma pessoa, ponto. E a entrevista ficará resumida à PRIMEIRA pessoa do júri, cai na real.

6.

Titá disse...

É impressionante!
O Descaramento de se colocar um anúncio dirigido a uma só pessoa e ainda haver quem ache que isto é normal e já não deve haver lugar à indignação.

Enfim, é o país que temos...epelos vistos, que muitos de nós merecem.

Um beijo para ti e um bom dia!

Luís Rocha disse...

E logo na Madeira! Essa terra livre do compadrio e exemplarmente governada por um homem culto, educado e respeitador das instituições e da legalidade.

Deve ser uma câmara socialista!!!

Esses gatunos!