quinta-feira, abril 10, 2008

Sobre a China e também sobre o Tibete

Leio diariamente notícias que dão conta que alguém se insurge contra a China. Todos os dias surgem personagens novos que se manifestam contra esta potência. Subitamente o Mundo acordou para algo que durante décadas esteve mais pesado do que está hoje. Quase de um dia para o outro tudo mudou: todos se preocupam com os direitos humanos na China, todos se sensibilizam com o povo tibetano, todos se acham no direito de pressionar a China. Mas, afinal, o que mudou? Porque é que o Ocidente se insurge agora contra um Estado que durante décadas, séculos, milénios apresentou um comportamento opressivo para com os seus, e dizimou milhares (senão mesmo milhões) de pessoas originárias de Estados vizinhos?
A resposta a estas perguntas é muito simples: energia e crescimento económico. Toda esta palhaçada a que assistimos diariamente através da comunicação social não passa de uma forma de combate ao incrível crescimento que a China tem tido desde há quase dez anos para cá. A China, um País que ainda em finais do século passado era considerada um país em vias de desenvolvimento, subitamente passa a ser uma potência. O facto de ser uma potência atenta contra o Ocidente, nomeadamente EUA, UE, entre muitos outros. Entrando em concorrência directa, hoje em dia os chineses ganham a esmagadora maioria das batalhas travadas contra o Ocidente.
Para todos aqueles que se preocupam com a defesa dos direitos humanos na China, deixo a seguinte curiosidade: sondagens recentes indicam que mais de 80% dos chineses (4/5 da população, mais de 800 milhões de pessoas) acha que o Governo deve interferir nas escolhas da população, e deve escolher os conteúdos de internet a que a população pode aceder livremente. Uma reportagem a que tive acesso há alguns meses, referia que na lista de prioridades dos chineses aparece uma Nintendo-Wii no topo da lista de prioridades, e que uma democracia não é propriamente algo que os faça perder o sono. Existem muitos outros exemplos que posso dar para justificar que direitos humanos é coisa que existe na China, e com fartura, sob a óptica da população local. Porque é que o Ocidente perde tempo a insurgir-se contra a alegada violação de direitos humanos na China, quando os próprios se consideram felizes?
A China invadiu o Tibete em 1951. Porque é que só desde há pouco menos de dez anos para cá o Ocidente se insurge contra a ocupação chinesa neste território? Porque é que só agora exigem que a China "liberte" o Tibete?
A Birmânia é dominada por uma ditadura totalitária há mais de vinte anos. Aung San Suu-Kyi encontra-se em prisão domiciliária há mais de 18 anos (desde 1990). Porque é que só no ano passado o Ocidente se sensibilizou para com esta causa? Porque é que só recentemente o Ocidente culpabiliza a China por compactuar com o regime birmanês?
A resposta já foi dada alguns parágrafos acima: energia e crescimento económico. A China é uma ameaça às ambições ocidentais. Não compactuo com a China, mas também não compactuo com hipocrisias. Estas campanhas para libertar o Tibete e a Birmânia e para se respeitarem os direitos humanos na China não passam de hipocrisia: tudo se resume a dinheiro. "It's the economy, stupid!"

2 comentários:

Pedro Malaquias disse...

Concordo plenamente. Andava para escrever algo semelhante, mas andava sem grande paciência.

Pedro Malaquias disse...

BTW,

http://acercadasideias.blogspot.com/2008/04/provocao-no-tibete.html