sexta-feira, outubro 31, 2008

Sócrates e o Magalhães (III)

O Primeiro-Ministro José Sócrates está a aproveitar a Cimeira Ibero-Americana para tentar "vender" o computador Magalhães. A jogada agrada-me parcialmente, porque mostra que não estamos a dormir no mercado e de certa forma Portugal tenta vender a imagem de país tecnológico. O problema com isto tudo é quando fazemos figura de parvos junto da comunidade internacional. Muitos sul-americanos podem ser campónios, mas não são totalmente tolos. José Sócrates está a investir na táctica "vamos lá ver se a história se repete e os índios voltam a trocar ouro por pechisbeque" ao vender um computador que muitos países em vias de desenvolvimento já têm e são exactamente iguais em tudo: tecnologia, formato, design exterior e cores. Ainda por cima estamos a tentar vender um computador de primeira geração, pois já existe a segunda e cá pelos vistos vai demorar a chegar. Ora, se se quer impingir algo a alguém, o mínimo que temos a fazer é pelo menos disfarçar o bem a impingir para que consiga passar despercebido. O que Sócrates está a fazer com toda aquela propaganda ao Magalhães, não é vender tecnologia portuguesa, porque a tecnologia é da Intel e as peças produzidas numa qualquer fábrica asiática que possivelmente recorre a mão-de-obra infantil. O que Sócrates está a fazer é propaganda à Intel e a divulgar os seus produtos, pois toda a gente sabe que o Magalhães é o classmate pc baptizado. É este o único factor que pode fazer a diferença: a Intel e os Estados sul-americanos e africanos preferirem comprar um computador com nome, que é um produto concreto, em vez de comprarem um produto que é visto como sendo subsidiário por não ter uma marca ou uma referência, algo que lhe atribua prestígio.
A única fase do processo produtivo do Magalhães em que Portugal participa é na última fase da linha de montagem. Toda a gente sabe disso. Mas em vez de tentarmos realmente divulgar algo nosso, e olhem que Portugal até tem bons engenheiros informáticos e muito bons criadores de software, prefere deixá-los fugir para o estrangeiro e darem rios de dinheiro a empresas como a Intel e a Microsoft, ao mesmo tempo que por cá compramos tecnologia e produtos estrangeiros e recorremos a uma qualquer fábrica no norte do país para montar as peças dos outros como se fossem legos, para depois lhe chamarmos "tecnologia portuguesa". Não obstante tudo isto, gostava que Portugal conseguisse vender o produto a terceiros. Ganha a JP Sá Couto, que é a empresa portuguesa que "despacha" o Magalhães, ganha a marca "Portugal", ganha a economia portuguesa, e consequentemente ganhamos todos nós portugueses, mais não seja através da criação de postos de trabalho.

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