Já dizia uma pessoa muito próxima a mim, que está a residir em Angola: "Há coisas que, por mais que se tente, nunca mudam. Queres um exemplo? Um cão é, e vai ser, sempre um cão. Um preto é um preto, e um branco é um branco".
Realmente, por mais que tentemos alterar hábitos, formas de estar, de ser, as coisas correm o risco de nunca mudarem por causa da sua natureza, ou por causa da natureza que lhes é atribuída. Essa não-alteração-da-natureza pode dever-se a: as pessoas realmente nunca conseguirem mudar a sua forma tacanha de ser, pensar e agir, por impossibilidade ou incapacidade; ou, porque quem está à sua volta impede que tal alteração alguma vez suceda. Exemplo da primeira situação, foi a pessoa que citei e com a qual concordo em tudo. Essa de pretos quererem ser brancos e de brancos quererem ser pretos (não me venham com a teoria que chamar preto a alguém é racismo, porque para isso também me devo sentir vítima de racismo quando me chamam branco), não me entra na cabeça. E, na maioria das vezes, a mistura dá maus resultados.
Exemplo da segunda situação que referi, é o caso dos caloiros na Faculdade. Por mais que se tente mudar as mentes com o típico "somos todos colegas", a esmagadora maioria da veterania vai sempre ver os caloiros como a "carneirada", "maçaricos", "burros", "vermes". Independentemente dos nomes que até podem ser carinhosos, há gente que olha para os novos alunos desta forma e sente mesmo estas palavras que diz. Prova disso é o clássico olhar de enjôo sempre que um aluno do primeiro ano aborda um veterano. Parece que a memória é curta para os lados destes que já não se lembram que um dia também não sentiram muita satisfação com tratamentos de "bestas" por parte de veteranos. Os papeis andam invertidos. Os vermes e as bestas são os que têm atitudes desprezíveis para com quem acabou de chegar. Porém, nem tudo são espinhos. Há sempre aqueles que conseguem apenas usar estes termos na brincadeira, e há quem nem sequer os use e os acolha. Eu, por exemplo, nunca tratei de forma diferente um aluno primeiro-anista. Podia sentir-me recalcado com o tratamento que tive no meu primeiro ano, mas acho que fazer aos outros o que não gostei que me tivessem feito, era a típica atitude vingativa, de recalcamento, sei lá. Optei pela via do acolhimento, do bem receber, da igualdade e da boa recepção.
Outro exemplo da segunda situação, é o exemplo do advogado-estagiário. Podem dizer o que quiserem, que os estagiários serão sempre vistos como "inúteis", "temporários", "ignorantes", "escravos", entre outras coisas. Isso vê-se até no olhar de um qualquer advogado ao olhar para o estagiário. Recusa considerá-lo um "colega". E esquece-se que um dia também já o foi. Então surgem os olhares de desprezo, as faltas de educação (e posso assegurar-vos que o que mais há por aí são advogados com formação jurídica elevada, e formação cívica nula), e tentativas de fazer dos caloiros os pequenos submissos que tudo fazem. Cabe a cada um saber marcar a sua posição e dar-se ao respeito. Um dia quando chegar a sénior, espero também não tratar os outros da mesma forma como já tentaram tratar colegas meus (e como felizmente ainda não me tentaram tratar). E, em caso de tentativa de abuso ou de exploração, não duvidem que marcarei a minha posição como sempre marquei. E quem me conhece sabe que digo o que tenho a dizer a quem quer que seja. Há quem diga que seja excesso de transparência. Há quem diga que seja inocência. Eu prefiro entender que é uma questão de carácter muito firme. Nesta vida, se não pudermos ser nós mesmos, será que sentiremos prazer nela com o fingimento ou com a actuação de algo que não somos? Não me parece. Um estagiário é sempre um estagiário e um caloiro é sempre um caloiro, mas apenas porque as pessoas que se encontram com mais tempo numa determinada posição assim o entendem. Uns e outros dão-se à mesma dignidade e são capazes de conviver como colegas que são. Basta terem um mínimo de inteligência, carácter e maturidade.
Discordo com a forma com a segunda situação, mas concordo totalmente com a primeira. Sejamos sinceros: há coisas, pessoas e situações, que por mais que se tente mudar, não vale a pena... um preto será sempre um perto, e um branco será sempre um branco. Um pau será sempre um pau, e uma pedra será sempre uma pedra. É a lei da vida e sempre será assim! Nunca aquilo que é diferente poderá ou deverá ser tratado como igual e vice-versa.
2 comentários:
O meu patrono no outro dia tratou-me por "colega" à frente de mil pessoas...heehehhe, sou um gajo de sorte!
1. Isso faz-me lembrar certas declarações de paizinhos de 40 anos a dizerem que os intervalos chegam e sobram para conviver e que obrigam as criancinhas a andar de bicicleta com capacete e não os deixam brincar na rua. Esquecem-se completamente que já tiveram essa idade.
2. Colegas são as PUTAS !
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