Quando escrevemos sobre alguém, devemos ter cuidado com as palavras que usamos. Porquê? Porque corremos o risco de deixar ficar no ar uma ideia que possa não corresponder àquela que pretendiamos, ou então uma ideia errada da pessoa. É com base nisto que estou a fazer este post sobre Florbela Pires. Não a tratarei neste post por Dr.ª, por Mestre, ou por qualquer outro título académico, por vários motivos: 1.º a nossa relação profissional cessou; 2.º porque não consta no seu BI o respectivo título; 3.º porque lhe desconheço qualquer outro título.
Como dizia no início do post, gosto de dar a ideia que realmente quero passar. Reconheço que é difícil, mas farei um enorme esforço para não ser nem mentiroso (exagerando pela positiva), nem incendiário (exagerando pela negativa). Vamos ver se consigo.
Florbela Pires foi minha assistente de Direito Internacional Privado. É verdade. A mais difícil cadeira da Faculdade de Direito de Lisboa e que nunca esquecerei na minha vida, tal o trabalho que me deu (pela 1.ª vez fez-me estudar. Impressionante, mas antes tarde que nunca). Refiro-me a DIP Anual e não à bazófia que é DIP Semestral. Comparar uma com a outra é o mesmo que pertencermos a um clube de solteiros e casados e decidirmos entre jogar contra o Benfica, ou contra o clube cá do bairro, composto pelos velhotes de 60 e 70 anos. Não me arrependo nada de ter optado pela solução mais difícil (se fosse hoje, a minha opção teria sido outra. Não por DIP, mas pela menção em si. Ou se calhar não. Afinal, esta pôs-me a estudar. Raios! Já estou confuso e ainda agora comecei a escrever).
Voltando ao centro do post, devo dizer que Florbela Pires também não me sairá da memória, tenha eu quantos anos tiver. Mentes perversas, afastem desde já essas ideias pecaminosas que vos ocorrem neste momento! Ao fim de 1 ano em contacto (juro que nunca fui para os copos com ela e nunca a vi sequer fora da FDL), posso dizer que tem um ar exótico, misterioso, e o seu quê de atraente. Não sei, há ali qualquer coisa de diferente. No entanto, nem tudo são rosas. Apesar de bem lá no fundo não parecer má pessoa, acaba por demonstrar mau feitio, por vezes descortesia, estranheza e, num ponto extremo, alguma falta de educação. Não tiro isto de ficar a olhar para ela e pensar "ora deixa-me cá pensar no feitio dela". Digo isto porque contactei e vivi com estas características durante um ano. Não é fácil. Mas também sei que eu não sou um tipo fácil. Aliás, acho que uma amizade entre nós, das duas uma: ou seríamos cão e gato (porque temos os feitios muito parecidos, logo chocaríamos), ou seríamos os melhores amigos do mundo (porque temos os feitios parecidos, logo entender-nos-iamos na perfeição). Não faço apostas, porque esse cenário não me parece nada possível.
Nunca lhe fiz mal algum (pelo menos intencionalmente). Mas, se falava de forma descontraída, é porque ia ali gozar. Se falava num tom sério, é porque era arrogante. Não tinha hipótese. No entanto, era público que havia ali uma "ralação" amor-ódio entre os dois. Ia ali fazer a minha vidinha, mas era inevitável haver algo que acontecesse e que ficasse na retina. Possivelmente porque o seu feitio sabe o que fere um feitio como o meu, e porque um feitio como o meu sabe o que tira um feitio como o dela do sério. Passámos um ano inteiro às turras e no final do ano nem um beijinho em forma de cachimbo da paz. Não lhe guardo mágoa alguma, pelo contrário. Mas marcou-me, também, porque dá para ver que é uma tipa com pulso. Quem conviva com ela diariamente, possivelmente deve assistir a uma tentativa de prevalecer, de marcar o seu ascendente sobre os demais, etc. Isso atrai-me, confesso. Mulheres apáticas, dependentes, que não marcam uma posição, não têm graça nenhuma. E Florbela Pires, parece-me sui generis. Só lhe censuro algumas atitudes bastante exageradas e os defeitos acima indicados. Posso até estar errado, mas havia ali qualquer coisa da parte dela para comigo que não me convenceu. Não quero entrar em pormenores mas... ou quem desdenha quer comprar, ou então levanta as garras para um feitio como o meu. Eu até sou um anjo, mas se me desafiam sigo o lema "fight fire with fire" e disparo em tudo o que mexe, mesmo antes de começar a mexer. Apenas adivinho que mexe.
Profissionalmente: sendo muito sincero, começou muito bem o ano. Ensinava bem, etc. Não entendo porque é que deixou de utilizar os bonecos que levou para a aula, quando explicava a qualificação. Por acaso era assim que estava a entender as coisas. Mas a maioria não quis. Venceu a maioria. Depois perdi-me eu e perdeu-se grande parte da turma. Não gostei do final do 1.º semestre, até ao final do ano. Era muito esforçada, mas muitos bem apregoavam que ela não ensinava. Eu, como era a voz daquela subturma, tomava as dores deles (e em alguns casos as minhas) e não reclamo por isso. Gosto de liderar causas. Engraçado foi que, todos aqueles que a apelidavam de não ensinar um chavo, quando receberam 12's, 13's e por aí fora, de repente passaram a considerá-la a melhor assistente de sempre. É assim o povo. Toma como herói aquele que lhe dá umas migalhas, ou um prato de sopa, mesmo depois de o chamar de "ladrão", ou "assassino". No entanto, comentários como "o meu colega ficou com os alunos inteligentes" não ficam bem a ninguém.
Resumindo: acho que no fundo até nem é má pessoa, deve ter cuidado com os defeitos, para não cair no exagero (como cai), e a quem a tiver para o ano, não se metam com a fera. Vários sapos. No Brasil existe um provérbio que é: não se deve cutucar a onça com uma vara. Façam o mesmo. Fiquem quietinhos e não se metam com ela. É só para profissionais. Vocês podem apenas... "cutucar a onça". Eu, como gosto do risco, quando vi a onça a afiar as garras, fiz questão de, não só cutucar, como enfrentar. Saí-me bem, de cabeça erguida. Mas, como eu disse, é só para profissionais. Já agora outro conselho: dar os bons dias às pessoas com cara de quem passou mal a noite, não é muito agradável. E olhar para alguém como quem quer disparar em cheio no meio da cabeça, não sabendo se a ama, se a odeia, mas por via das dúvidas, vamos lá matar, também não é boa postura a seguir.
Ficou carinhosamente conhecida, no final do ano, entre todos, como Floribella. Mas não se iludam, porque não a vão ver a chorar pelo príncipe encantado, nem a cuidar de criancinhas.
Meus amigos, o problema dela é ter ali muito amor para dar, mas deixa-o ficar todo retido na fonte. Precisa de alguém que saiba como lidar com o seu feitio, porque não acredito que seja má pessoa.
Diz-se que notícia não é o cão morder no homem, mas o homem morder o cão. Eu acho que a verdadeira notícia é aquela que é feita através de um simples homem que passeia o seu cão, nada mais se passa, e tem um impacto maior do que se fosse o homem que mordesse o cão.
2 comentários:
Não a conheço nem nunca a vi mais gorda tudo isto porque eu ainda me considero uma "novata" dentro da FDL...concluindo, ainda faltam uns anos para ter a oportunidade de a encontrar na mesma sala que eu. Confesso-te que gostei da forma como a descreveste e como exorcizaste os "fantasmas" da vossa relação(?!) ao longo de um ano. Confesso-te tb que fiquei interessada em conhecer a personagem. Também gosto de desafios, também gosto de puxar por mim perante o mais difícil que encontrar pela frente e trabalhar com alguém que me obriga a pôr as garras de fora e lutar ao mais alto nível para conseguir atingir aquilo que acredito em mim é simplesmente...fantástico!
Compreendo essa relação amor-odio e parece-me a mim que, vai na volta, tu mexias com o sistema nervoso dela mas tb noutros sentidos...;) Eles são duros mas tb são humanos...
Beijinhos
Obrigado pelo comentário miosótis. Quem sabe um dia tenhas a possibilidade de a encontrar...
Beijinhos para ti e felicidades para o resto do curso.
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