Relembrando um texto que tinha escrito no meu blog, venho por este meio mostrar o meu apoio à candidatura de Mário Soares.
Mário Soares anunciou em Setembro o que todos esperavam: “ Aceito candidatar-me a Presidente da República” – disse Soares, num discurso entusiástico e optimista em que anunciou a sua corrida a Belém.
Vários defeitos têm sido apontados pela Direita à candidatura de Soares, em especial a idade e a falta de alternativa da esquerda. Quer o autor deste blog, humildemente, refutar estas críticas e apontar as virtudes da candidatura desta figura central da democracia portuguesa.
Ora, Soares tem de facto 81 anos. É um facto conhecido, atestado por todos e que ninguém tenta ocultar ou negar. No entanto, Soares é um homem lúcido, jovem de espírito e alguém que afirma “ recusar morrer antes de chegar a sua hora”. Está no pleno das suas capacidades físicas e mentais e, quando assim é meus amigos, a idade só pode ser uma vantagem. Cavaco já vai a caminho dos 70 e, meus amigos, tal idade seria tão pouco recomendável como a de Soares se defendermos um Presidente fisicamente jovem. Não será um bom argumento para decidir se uma candidatura presidencial é, ou não, útil ao país.
A esquerda apresentou vários candidatos. O Bloco de Esquerda e o PCP apresentaram já os seus candidatos presidenciais e uma ala do PS apoiou Manuel Alegre. Todavia, o PS soube interpretar bem as tensões socio-políticas e perceber que Mário Soares não seria o candidato do PS, mas sim um candidato nacional apoiado pelo PS. E isto poderá fazer toda a diferença.
O maior partido da oposição (PSD) está, de facto, numa situação difícil. O Governo liderado pelo Eng. José Socrates tem implementado um série de medidas utéis e corajosas mas algumas delas impopulares. Todavia, o PSD tem realizado uma oposição medíocre, mostrando que neste momento não é uma alternativa forte.
Daí o surgir da candidatura do Prof. Cavaco Silva, apresentado pela Direita como "salvador" da Economia Portuguesa e do País. É esta a mensagem que o PSD e o CDS-PP querem passar aos portugueses: é urgente eleger o Prof. Cavaco Silva pois apenas ele poderá estagnar esta cobra venenosa que corrói o nosso país e que dá pelo nome de défice público.
Cabe perguntar onde esteve Cavaco nos momentos de crise em Portugal nos últimos anos? Qual foi o seu contributo para solucionar esses mesmos problemas? Quais as soluções preconizadas por Cavaco Silva? Onde esteve ele? Eu respondo: Nowhere to be found or to be bothored, if you wish!
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Mais do que isto / é Jesus Cristo/ que não sabia nada de finanças/ nem consta que tivesse biblioteca - Fernando Pessoa
Que eu saiba, o Presidente da República não legisla, não intervém na Economia. Para isso elegemos uma Assembleia Parlamentar, um Governo com maioria absoluta.
Não é a resolução do défice o que esperamos do próximo Presidente. Esperamos um homem capaz de estimular o diálogo na Sociedade Portuguesa, um homem que saiba avaliar as tensões sociais, um homem que una os Portugueses em torno das questões que abrandam o nosso desenvolvimento, um homem que inspira os portugueses a superarem-se. Esse homem nunca poderá ser Cavaco. Não menosprezando a sua capacidade científica enquanto Professor, sem desvalorizar o papel importante que teve num período concreto da nossa história recente, Cavaco Silva sempre foi um homem avesso ao diálogo, um homem pouco inspirador, um homem que já mostrou não ter a capacidade diplomática de gerir conflitos com a conduta exigida a um Presidente da República. Um homem que diz que os referendos são um desperdício de tempo porque o Povo Português é estúpido não me parece poder assumir esta suma funçao de Presidente.
Soares reconhece que vivemos um “momento de crise, de desorientação e de indiferença” mas, ao contrário do que alguns querem fazer crer, afirma que “o abrandamento económico e os défices não são fatalidades insuperáveis”. A história assim o diz. Mas o que cabe realçar é a mensagem de Soares quanto à campanha de Cavaco, centrada unicamente na Economia e no problema actual do défice: “ A economia é extremamente importante, ninguém o ignora (...) Mas a economia está ao serviço das pessoas e não as pessoas da economia. O que faz andar o mundo são as ideias e a vontade das pessoas”.
A figura do Presidente da República é a de um moderador, função essa que Cavaco parece inapto para desempenhar.
Pelas razões anunciadas não vou votar Cavaco. Não por ser o candidato da Direita. Mas por lhe faltar as características essenciais de um grande Presidente da República.