quinta-feira, setembro 01, 2005

Carlos Paião: Há Vida depois da Morte

Carlos Paião: 1/11/1957-26/08/1988



"Na sua aparente fragilidade ele foi mais forte do que a morte, que não jogou limpo e perdeu, porque ele ficará sempre vivo na memória dos que o conheceram e admiraram".
A frase pertence a Mário Martins que em 1978 descobriu Carlos Paião, para muitos um dos melhores compositores portugueses da segunda metade do século XX, o homem do "Play-Back", das "Trocas e Baldrocas", do "Pó de Arroz" e dos "Versos de Amor", capaz, como (muito) poucos, de escrever, num dia uma canção para Herman José e no seguinte uma outra para Amália Rodrigues, sempre com o mesmo invulgar sentido melódico e de domínio da língua portuguesa.
Carlos Paião desapareceu num trágico acidente de viação, aos 31 anos, ironicamente esmagado pela aparelhagem e pelas colunas de som que transportava no carro, fez no passado dia 26 de Agosto, precisamente 17 anos, um dia depois do não menos trágico incêndio do Chiado, e o Barvelho não se poderia esquecer de lhe prestar homenagem.
Nessa mesma tarde em que tudo aconteceu Amália Rodrigues definia, com simplicidade, emocionada, à agência Lusa, o autor de "O Senhor ExtraTerrestre", fado que gravara seis anos antes: "Ele era uma pessoa cheia de talento e de vida".
E pouco mais (que já é muito) haverá para recordar ainda hoje senão o talento e a alegria de viver daquele que, na opinião de David Ferreira, director-geral da sua editora, a Emi-Valentim de Carvalho, "sempre revelou uma invulgar mistura de talentos artísticos e qualidades humanas".
Para aquele responsável "há muito poucos letristas na música popular portuguesa tão bons como Carlos Paião" e acrescenta: "Se me pedissem seis ou sete nomes de escritores de canções que os mais novos deveriam estudar não hesitaria em referir o Carlos", diz.
No dia 26 de Agosto de 1988, a actriz Magda Cardoso, que participara no júri do concurso "Com Pés e Cabeça" juntamente com Carlos Paião, confrontada com a morte do cantor, afirmava, por seu turno, que jamais deixaria de ser sua amiga. “As pessoas desaparecem mas não morrem no nosso coração". E assim tem sido. Desde sempre. Carlos Paião continua bem presente na memória colectiva de um País que cedo se deixou render a canções como "Play-Back", "Souvenir de Portugal", "Marcha do Pião das Nicas", "Prás Sogras que Encontrei na Vida", "Cinderela", "Vinho do Porto" e "Pó de Arroz".
Ironia do destino, ou não, o facto é que Carlos Paião vendeu mais depois da sua morte do que em vida. Curiosamente, hoje chamam--no artista, o rótulo ao qual sempre fugiu.
Segundo dados da Associação Fonográfica Portuguesa a verdade é que os principais galardões de Carlos Paião datam dos anos posteriores a 88. Antes disso só mesmo o single "Play--Back" havia antingido a marca da prata e do ouro. Tudo o mais veio depois da sua morte, nomeadamente em 89 com o single "Quando as Nuvens Choram" - prata (20 mil cópias) e ouro (30 mil), em 90 com o álbum "Intervalo" - prata, em 91 e 92 com "O Melhor de Carlos Paião" - prata e ouro respectivamente, e, já este ano, "Letra e Música 15 anos depois" - prata e ouro.
"Como intérprete, acho que o Carlos nunca vendeu na medida do talento que tinha, mas devo dizer que, como autor e compositor, era ainda muito superior e a melhor homenagem que hoje lhe posso prestar é não fugir à verdade", declara Tozé Brito, Administrador da Universal Music Portugal, que conheceu Carlos Paião quando este escreveu a "Canção do Beijinho" para Herman José, então artista da Polygram. "Foi na escrita que ele foi totalmente inovador. Se hoje fosse vivo não tenho dúvida de que seria um dos compositores mais requisitados. Seria brilhante".
A propósito, David Ferreira recorda a prontidão e a rapidez com que Carlos sempre escreveu, simplesmente com talento, e lembra um episódio. "Uma sexta-feira pedimos-lhe um hino não oficial para a participação portuguesa no México 86 e na segunda-feira seguinte ele apareceu com o 'Vamos lá Cambada', que é talvez o melhor que já tivemos no futebol", confessa o administrador da EMI que, ainda hoje se emociona quando pensa no dia 26 de Agosto de 1988.
"Nesse dia houve uma rádio que me ligou a pedir-me um depoimento e eu lembro-me de que, no meio da entrevista, tive de parar para chorar a morte de um homem que sempre me fizera sorrir".


Fonte: Correio da Manhã.

2 comentários:

Unknown disse...

existe vida apos a morte??

Unknown disse...

pf responda me